quinta-feira

Elisa Samudio: ela mereceu!




Não se sabe onde está Elisa Samudio, não se sabe quem a matou. Mas tomemos a hipótese de que várias pessoas participaram de seu assassinato, para uma breve reflexão.

É muito comum no universo masculino a curra, mais do que pensamos. É muito comum um grupo de adolescentes ou adultos coagirem uma garota, ou mesmo forçarem uma mulher a fazer sexo com eles. Garotos ou homens que muitas vezes tem reputação ilibada ou uma conduta “ordeira”, participam de tais orgias geralmente sob a justificativa moral de que a garota "merece", uma vez que essa garota invariavelmente tem uma reputação de promíscua. Já que uma mulher tem a ousadia de desejar, de querer sentir prazer, ela deve ser, portanto, castigada ou punida: “ter o que merece”.

Essa análise é um tanto quanto conhecida, mas trago ela para ressaltar o poder social que ela possui, e que justifica e dá força à posturas opressivas. Esse discurso escondido autoriza nós, homens, a cometer, vez ou outra, essa “indisciplina”, pois às vezes, algumas mulheres, “merecem” isso. A hipótese de que Elisa tenha sido morta, de modo planejado, por um grupo de homens, aponta para um feminicídio dessa ordem. Esse caso deixa claro que essa violência não tem nada de passional. Trata-se de eliminar uma mulher “desonrada” que ousou ter direitos.

Elisa, como sabemos, era atriz de filmes pornográficos, o que facilmente poderia lhe caracterizar como desprezível, vulgar, inferior, logo, sem méritos para pleitear algum direito, principalmente àqueles da maternidade. Esse discurso social, velado, mas potente, dá força à ações brutais como desse caso. Ela também “mereceu essa punição”, compreensão essa compartilhada por vários homens que participaram desse ato de barbárie. Não existe aí ato impensado, nem mesmo arrependimento, pois se têm a “certeza da lição dada uma vagabunda”.

É fundamental descobrir os caminhos do machismo e seus convencimentos, pois, em maior ou menor grau, os reproduzimos.

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